Aprendendo a ser forte por que, como não nasci pra viver de migalha, acabei percebendo que ninguém sabe cuidar melhor de mim do que eu mesma. Aprendendo a ser forte por que quando pequena, o choro tinha significado pra alguém e eu não sabia da capacidade de me levantar sozinha. Hoje, os meus gritos não são nada além de frescura adolescente. E ninguém olha mais por eles com a sinceridade que a dor exige. Notei que ela é grande demais pra qualquer um além de mim compreender. Mas onde encontrar colo se nem eu mesma entendo por que dói? Aprendendo a ser forte por que o tempo das dores visíveis que a sociedade valida passou e que não tem espaço pra chorar dor que não tem remédio. Se o médico não pode receitar remedinho, não existe. É frescura. Não merece atenção. Não pode sentir por que, nesses tempos modernos, tudo tem solução, então sua dor tem que vir com pacote completo de sintomas, nome registrado da doença – mas não se preocupe, se você for criativo e inventar, eles adicionam à lista infinita de anormalidades humanas – e receita pra já passar na farmácia e comprar a pilula mágica. Do contrário, querida, fuja, se esconda, não olhe, finja que não existe e aproveita também pra não sentir. Devemos ser perfeitos e normais, afinal temos solução pra tudo, não é mesmo? Aprendendo a ser forte por que chega um ponto da vida em que as pessoas não gostam mais de olhar para os seus machucados se elas nunca os sentiram. As pessoas têm medo do desconhecido, sabe? E você bem aí, desfilando com ele escancarado e gritando pra que algum coitado faça a dor passar. Se você for efeito colateral, pior ainda. Esqueça.
Aprendendo a ser forte por que esse efeito colateral me mostrou caminhos, mas nos quais preciso lutar contra a correnteza. E lutar contra a correnteza é nadar sozinha. Aprendendo a ser forte por que pior que não entenderem do que você precisa, é fingirem compreender. Então concluí que é mais fácil não pedir ajuda à quem não tem ouvidos e é cego demais pela zona de conforto do conhecido.
Aprendendo a ser forte por que não importa o quanto você grite, o quanto você chore, o quanto você peça, você é apenas mais um efeito colateral. E não mais um bebê que ainda não pode refletir nada. Ninguém quer ver as próprias imperfeições. Aprendendo a ser forte por que quanto menos você reclama, menos as pessoas acham que dói. Aprendendo a ser forte por que se você não sabe do que eu mais preciso, não quero que entenda mais nenhuma unha quebrada que eu nem percebo mais.